sábado, 8 de agosto de 2015

Concorrência e monopólio


Não existe concorrência sem monopólio, porque a concorrência em si já pressupõe privação de propriedade, ou seja, escassez. Escassez é simplesmente uma situação em que a satisfação de um exclui a satisfação do outro. Portanto, concorrência, por definição, é sempre pelo monopólio para si e pela privação para o outro. Concorrência e monopólio são apenas adjetivos da propriedade privada e não existem sem ela.

Graças à propriedade privada, quanto maior a escassez e necessidade, maior o lucro, porque mais caro é possível cobrar em pagamento. 

O "empreendedor de sucesso" é aquele que, depois de concorrer, consegue ao fim monopolizar, isto é, privar, reproduzindo numa escala sempre maior a escassez e a necessidade.

Alcançando o monopólio, o lucro da empresa se multiplica e parece surgir do nada  (super-lucros), como se fosse desproporcional ao trabalho feito dentro dela. Na realidade é o resto da sociedade que, pagando caro, trabalha de graça  (sobre-trabalho) para aquele proprietário. E também, o novo monopólio pressiona os antigos concorrentes, que, desesperados, impõem que os proletários trabalhem ainda mais para tentar compensar seu crescente fracasso no mercado frente ao vencedor. 

Por diversas vias, o sobre-trabalho (trabalho não pago) que os proletários são açoitados para fazer por todos os proprietários concorrentes flui como mais-valia para os proprietários com mais sucesso na concorrência pela monopolização sob a forma de super-lucros  - o sonho de todas as empresas concorrentes.

No entanto, a concorrência (que sempre é pelo monopólio) nunca acaba, porque sempre podem surgir novos concorrentes com novas máquinas e mercadorias que buscam suplantar os monopólios, embora estes, por terem já anteriormente acumulado super-lucros, sempre estejam numa posição vantajosa para investir em inovação e desenvolvimento de máquinas e produtos frente aos novos concorrentes. 

Essa dinâmica entre monopólio e concorrência explica como funciona todo e qualquer tipo de mercado (troca, inclusive escambo), e todos os tipos de capital que dele decorrem automaticamente: 

-capital rentista (que vive de rendas, monopolizando patentes, copyright, royalties, imóveis, terrenos); 

-capital comercial (que monopoliza rotas comerciais para poder comprar barato e vender caro)

-capital financeiro (que empresta para receber com juros, porque o banco tem o dinheiro o que outros não tem), e  

-capital industrial (que é a propriedade privada das condições de existência da população, que força a classe proletária a se oferecer como objeto de consumo no mercado de trabalho  à classe proprietária em troca do salário).

humanaesfera, agosto de 2015


4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Excelente artigo, mas uma dúvida! capital comercial como monopolizador de rotas ainda existe? como identificar os praticantes deste modelo hoje, se ainda existe é melhor que o conceito seja atualizado.

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    1. Existe ainda, no sentido de que a entrada e saída de mercadorias de uma região para outra (numa mesma cidade, num país, num continente, entre continentes etc) passa por poucas empresas (ou seja, monopoliza essas rotas), seja por causa dos equipamentos bilhonários (que dificilmente outras tem o dinheiro para ter) que já possuem, como navios e aviões, seja por causa do know how de contratos bilhonários para subcontratar esses equipamentos de outras empresas. Atualmente, o capital comercial segue a mesma forma empresarial do resto da economia (desde os anos 1980), com uma empresa gigante subcontratando de outras empresas em diversas subcamadas de terceirização. Os supermercados também são capital comercial. Um exemplo de como isso funciona hoje: http://humanaesfera.blogspot.com.br/2013/03/a-logistica-e-fabrica-mundial.html

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    2. valeu!...e obrigado pelo link ;)

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