Contra o que é esta ética?: O capital (não importa se particular ou estatal, como o cubano) se define, enquanto tal, por separar os indivíduos de todo e qualquer meio de transformar o mundo material, meios que são suas próprias condições de existência (os meios de produção), Assim, impede-os de transformarem a si mesmos de forma autônoma, forçando-os, pela necessidade econômica assim imposta, a vender sua força de trabalho (sua capacidade de transformar o mundo) como uma mercadoria (em troca do salário), a única mercadoria capaz de aumentar o próprio capital, isto é, reproduzir ampliadamente, cumulativamente, a separação das condições de existência dos próprios indivíduos, reduzidos a meros proletários, cujo consumo permitido por seu salário, por mais luxuoso que seja, apenas reafirma sua separação de todo e qualquer meio de afirmar (de forma objetiva, material) sua individualidade como seres autônomos.
Assim, vamos ao que interessa:
1-Livre acesso aos meios de produção: derrubada dos muros e transfomação dos meios de produção em praças públicas absolutamente abertas (praças livres).
- Requisito: abolição da propriedade privada e, dado que a existência da propriedade privada sempre supôs e exige o aparato repressivo, abolição definitiva do Estado e de todo e qualquer instituição armada separada da população. Fim das fronteiras nacionais.
- Consequências: as forças produtivas tornadas totalmente disponíveis nas praças tornam inútil o dinheiro. A escravidão salarial torna-se impossível. Se alguem quiser alguma coisa, basta chegar na praça e fazer aquilo que se quer. As forças produtivas deixam de ser forças do capital e tornam-se forças dos indivíduos em livre associação em escala mundial.
- Requisito: ter desejos, necessidades, gozos, fruições. Entrar em relação com outros com desejos etc. afins, formando inumeráveis redes mundiais de fruição produtivas, que são auto-organizativas e existem paralelamente entre si.
- Consequências: como fruição e atividade vital material não são mais separados, a fruição enriquece-se na experiência material-produtiva da fruição. A experiência material ativa leva sempre a fruição a novos horizontes antes inimagináveis. Por exemplo, minha fruição, como experimento produtivo material, existe não só para mim, mas, em sua objetividade, também para outros, que por sua vez apresentam também a objetividade de sua fruição, que abre novas fruições para mim. Em comparação, no capitalismo, a fruição, reduzida a mero consumo, é sempre subjetiva, impotente, sem objetividade, já que a materialidade do objeto de consumo não é fruto de fruição alguma, mas sim da escravidão salarial, da ditadura do dinheiro.
- É muito fácil responder a esta objeção: primeiro, graças ao fim da propriedade privada e ao livre acesso às forças produtivas, não há mais trabalhadores nem desempregados, mas apenas indivíduos livremente associados. Portanto, a necessidade de, por exemplo, existir um serviço regular para remoção do lixo, é determinada e realizada (ou não, conforme decidirem) pelos próprios indivíduos em associação, que também decidem como e quando fazer o serviço.
- Rascunho (a ser desenvolvido) de resposta: desativação pura e simples de algumas produções. know how para criar outras necessárias etc.
Nota para os curiosos: as principais idéias utópicas aqui expostas foram retiradas de Marx: Teses sobre Feuerbach, Manuscritos de 1844 e Comentários sobre James Mill.
Humana Esfera, Abril de 2011
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