Recebemos do grupo Iniciativa Revolução Universal estas duas interessantes análises da greve dos caminhoneiros, que nos foram enviadas ontem, dia 28/05:
Envolvida na maior rebelião desde 2013, a classe trabalhadora brasileira reaparece no cenário histórico. As revoltas e protestos no Carnaval, a onda de manifestações com a morte de Maríelle Franco eram sinais anunciadores da atual rebelião social. Antes foi brecada pela manipulação/polarização eleitoral, pelo golpe de 2016, por demagogias espetaculares de jornalistas e juizes tentando salvar o sistema pelo falso discurso de "moralização da política"- tentativa de usara classe trabalhadora como bucha de canhão na disputa entre burgueses, pelo Estado e pela sede do governo que hoje é o STF - pela deterioração ainda maior das suas condições de sobrevivência, após várias lutas nos últimos anos - contra Copa e Olimpíadas, contra privatizações, contra a repressão, contra a militarização, contra a precarízação no funcionalismo, contra despejos, contra reformas educacionais e após as greves/revoltas de março-junho de 2017- Fragilidades e flagrantes sabotagens a tais lutas, vindas dos dois braços do Estado ("direita" e “esquerda"), voltam a ameaçar a exemplar rebelião dos caminhoneiros, que paralisou a economia do país e que apesar da perseverança e da determinação com que está sendo conduzida, precisa identificar os obstáculos e inimigos para se fazer triunfante. Todo apoio aos trabalhadores em luta! Pela construção da greve geral insurgente!
Possibilidades e ameaças à atual luta social no Brasil: a luta dos caminhoneiros mostra um forte potencial de transformação social, mobiliza o conjunto da classe trabalhadora em seu apoio. Suas possibilidades de triunfo aparecem em várias características:
• Espontaneidade: fora das lendas da imprensa e dos políticos que querem isolar o movimento, a greve começou antes dos sindicatos decretarem “apoio” a partir de 21 de maio. Vários caminhoneiros passaram a não realizar entregas e se ausentaram dos fretes, quando da alta dos combustíveis, até haver o bloqueio das estradas. Tal espontaneidade está impedindo que os sindicatos e partidos eleitorais consigam ter total controle da luta. As decisões tomadas nos piquetes e meios virtuais (Facebook e Whatsapp) passam fora dos canais eleitorais e sindicais e substituem as assembleias gerais presenciais.
• Generalização/ação estratégica: o alcance e o impacto do movimento chegam a todo o território nacional, tornando-o a maior rebelião desde 2013. Cortou as rotas comerciais e de combustíveis do país, Estrangulou a economia capitalista, rendendo patrões e governo. O governo pretende mover efetivos militares contra a luta, e são propostas ações como bloquear todos os acessos a Brasília. A inteligência tática da greve, demonstrada por uma categoria de trabalhadores que conhece as veias e artérias logísticas do país faz desse movimento de luta indispensável para a paralisia e derrota do Estado.
• Simpatia e solidariedade de classe: como na rebelião de 2013, as lutas ligadas à questão do transporte são e serão decisivas nas lutas sociais de amanhã. Antes a radicalização social ocorreu por causa das tarifas do transporte urbano. Agora, por causa do gasolinaço de Temer. O transporte é o grande vilão da piora do custo de vida, pois impacta diretamente os preços finais e devora os salários. A classe trabalhadora brasileira entrou em imediato processo de apoio ao movimento: em várias cidades e estados foram criados comitês de apoio, cedendo comida e recursos aos grevistas. Várias outras categorias: perueiros, motoristas de vans escolares, motociclistas, petroleiros, estivadores, estão somando apoio. A luta dos caminhoneiros torna-se a luta de todos, causa simpatia imediata e o que decidirá seu sucesso, além dos bloqueios nas estradas, e da firme e inegociável perseverança será a solidariedade da classe trabalhadora em conjunto.
Não são poucas as ameaças ao movimento: empresários do transporte/donos de frota estão tentando usá-lo para arrancar apoio financeiro do governo e ampliar seus lucros, às custas do penoso e ininterrupto trabalho dos caminhoneiros. Os sindicatos que dizem falar em nome dos caminhoneiros tudo fazem para brecar a greve, tentando dois acordos com Temer (25 e 27 de maio), que só não tiveram resultado porque os trabalhadores, desconfiados desses falsos amigos, rejeitaram os acordos.A infiltração da direita militante patriótico-fascista, tentativas de isolamento da greve pela imprensa e pelo setor de “esquerda” do capitalismo são as ameaças mais graves e atacam o movimento por dentro e por fora. Fazem parte de uma única estratégia.
A estratégia para desmontar o movimento: usando a tática do alicate, com a “direita” e a “esquerda” pressionando a derrota da luta, o Estado e os patrões lançam uma dinâmica bem armada e articulada, com os petistas/pseudo-esquerdistas de um lado em total solidariedade com os bolsonaristas/defensores de ditaduras militares do outro. Os maiores beneficiados com isso são o governo Temer, os patrões e o cartel nacional e internacional do petróleo. Isso acontece porque o movimento não tem um direcionamento claro, seu significado e identidade estão em disputa. O desgaste da “esquerda” sindical-eleitoral impediu sua implantação na greve, parte dela só contribui com apoio retórico. O uso teatral, intimidante, mas limitado do exército que ainda não caracteriza golpe militar contribui à farsa, embora os generais já lancem olhares gulosos ao poder.
• A ação da “direita”: vendo o potencial e a espontaneidade do movimento, os grupos da direita militante se infiltraram, concentrados em 3 objetivos: a) assumir o controle de um movimento da classe trabalhadora (o que a direita raramente conseguiu na história) e assim ter um público fiel às suas ambições políticas: agitação pré- eleitoral e respaldo a um possível golpe militar, b) acima de tudo, fazer campanha eleitoral para Bolsonaro, desviando e tirando o objetivo do movimento das mãos dos trabalhadores, c) sujar o movimento e acelerar seu isolamento, pois Bolsonaro e a direita patriótico-fascista sabem que o conjunto da classe trabalhadora é antipático às suas bandeiras e se tentam aparecer como donos da greve, maior será a rejeição à luta dos caminhoneiros. A direita, no entanto é minoritária no movimento e sua ação tem vindo mais de fora do que de dentro, através de supostos “apoiadores” indo ao encontro dos caminhoneiros ou de “protestos” que imitam as marchas regressistas de 2015-16. Vereadores, políticos municipais e estaduais também tentam fazer palanque com a greve e trazem seu apoio...a eles mesmos!
• A sabotagem “esquerdista”: articulada com a “direita” e em parceria com a mídia a “esquerda” do capitalismo tem se dedicado desde o início a três ações: a) difamar o movimento, dizendo ser uma “greve de patrões” (locaute) ou de uma greve de fascistas em apoio a um golpe militar resultante do “caos” intencionalmente provocado pela greve - para isso contam com a cobertura da mídia que calculadmente só mostra as faixas e bandeiras em favor de Bolsonaro e de um golpe militar (além de explorar as cenas de desabastecimento), reduzindo a greve a essas pautas, b) através das suas centrais sindicais (CUT, UGT, etc.), isolar a greve, forçando outras categorias profissionais a não aderir, tentando impor um cordão sanitário contra a mesma...contudo a estratégia falha: aderem os metalúrgicos da Ford entraram em greve, os estivadores em Santos e alguns setores do funcionalismo (Unesp, prefeituras, etc.), nas periferias do Nordeste e de São Paulo ocorrem expropriações/saques nos supermercados: é a ultrapassagem da ordem burguesa, c) retirar a 27 de maio a palavra de ordem de “greve geral” (que havia sido esboçada por oportunismo no dia 25), em nome da “estabilidade” do regime, o que revela a “esquerda” eleitoral como o maior pilar de defesa do governo Temer, revelando sua submissão ao governo golpista e que o verdadeiro golpeado foi a classe trabalhadora (essa manobra inclusive foi aconselhada por Lula, que dentro da prisão entabulou conversações com interlocutores sindicais e do governo - certamente em troca da sua soltura e candidatura, pois ainda lidera as pesquisas). Para quebrar a ligacão entre petroleiros e caminhoneiros, a “greve” dos petroleiros foi chamada para o dia 30 (véspera de feriado, ou seja: greve sem efeito), na expectativa de que a greve nas estradas morra antes e com tempo definido: somente três dias, para evitar maiores resultados. Enquanto isso, Temer envia as forças armadas às refinarias e ao Porto de Santos, decreta intervenção militar em todo o país e determina que as estradas sejam desbloqueadas, conforme querem os falsos “apoiadores” da greve Bolsonaro e Sérgio Moro, que se opõem a qualquer prejuízo econômico da greve. A “direita” defende diretamente os patrões, a “esquerda” defende Temer, a quem acu sava de golpista, e se levanta contra um golpe militar que interrompa o processo eleitoral de 2018, o mesmo que declarava ilegítimo sem Lula candidato.
A iniciativa da classe trabalhadora decidirá a situação: as ilusões com um golpe militar como solução, esperando inclusive que eles concluam a greve serão desfeitas pelas tropas atacando os piquetes e as barreiras. A segurança pública, bandeira dos fascistas tornou-se obsoleta depois que 3 dias de greve de caminhoneiros interrompeu o fornecimento de drogas, (e a ação dos ladrões de cargas) extinguindo na prática o poder do narcotráfico em várias cidades!! A ação autoorganizada da classe trabalhadora sem outros personagens em cena deverá ser pela greve geral insurrecional, pela sua autodefesa e pelo ataque ao Estado. Formar os comitês independentes de luta, unindo as várias categorias em uma só luta!!!!
PELA REVOLUÇÃO SOCIAL!!!! NEM ELEIÇÕES NEM MILITARES!!! INSUBMISSÃO É A SOLUÇÃO!!!
SABOTARAS LINHAS DE SUPRIIMENTO DAS FORÇAS ARMADAS!!!! GREVE GERAL!!!!
Iniciativa Revolução Universal, maio de 2018
revolucaouniversal@riseup.net // revolucaouniversal@protonmail.com
Quatro anos depois da derrota do movimento de protesto/rebelião iniciado em 2013, derrotado por ataques lançados por um governo supostamente de “esquerda”, e pela infiltração patriótico-fascista, parecia que a derrota da classe trabalhadora era definitiva: medidas de miséria foram lançadas pelo mesmo governo, mas custaram sua popularidade, o que foi aproveitado pelos seus adversários políticos, que em seguida o derrubaram num golpe de Estado organizado pelos seus aliados da véspera vinculados com forças regressistas e setores patriótico-fascistas. Os golpistas não só continuaram as medidas de miséria do governo anterior como tornaram-nas ainda mais agudas.
A perda de inciativa da classe trabalhadora tornou-a refém das chantagens ideológicas e da manipulação eleitoreira de burgueses de “direita” (ansiosos por um governo militar ou pelas candidaturas Alckmin /Bolsonaro) e de “esquerda”(querendo a volta de Dilma ou a eleição de Lula). A classe dominante no Brasil, dividida e em conflito consigo mesma desde 2016 colocou o governo do país nas mãos do poder judiciário como mediador entre as quadrilhas (com o STF comandando de fato o Estado). E a classe trabalhadora, incapaz de maiores reações viu piorar tudo o que o capitalismo petista havia iniciado: fortalecimento dos fascistas, judicialização generalizada, novas privatizações, eliminação de opositores, aumento da carestia e do custo de vida, impostos,desemprego e inflação crescendo astronomicamente...enriquecendo o outro extremo da sociedade, concentrando cada vez mais os recursos acumulados através do roubo e da carestia; além do repasse cada vez maior desse roubo às grandes corporações internacionais Algumas ações de protesto ocorreram: onda de ocupações, tomadas das escolas contra o governo, mobilizações universitárias, greves localizadas no funcionalismo, e as três grandes tentativas de greve geral em abril-junho de 2017, todas infiltradas pelos setores burgueses de “esquerda” e desarmadas por eles em nome da participação nas eleições de 2018. A classe trabalhadora ainda é refém das manipulações entre as quadrilhas capitalistas de “direita” e de “esquerda” disputando o controle do Estado brasileiro (judicialmente, midiaticamente, eleitoralmente e também no submundo: a guerra civil do narcotráfico/facções), com apoio de setores do capital internacional. Mas não deixou de afirmar seus interesses contra o avanço da exploração e do terrorismo de Estado, embora sem projeto definido de transformação e sem consciência clara do objetivo: suas ações na prática enfrentam o Estado e os patrões, afirmam a perspectiva da revolução, mas tudo ocorre dentro da visão de mundo, direcionamento e linguagem de seus inimigos, que os setores em combate ainda não questionam. A greve nacional dos caminhoneiros, pela primeira vez em décadas trava a rede produtiva, logística e comercial do país, sendo a primeira revolta social a ter alcance e efeitos sobre todo o território e a economia nacional desde 2013. A crescente solidariedade com o movimento aterroriza os patrões e os governantes!!!! A solidariedade deve ir além das declarações de apoio e dos comitês locais fornecendo comida e recursos aos grevistas. A greve geral insurrecionária está na ordem do dia, todos os setores da classe trabalhadora só terão futuro na medida que também paralisarem suas atividades e acima de tudo, tomarem as ruas, removendo dos protestos os oportunistas e demagogos de “direita” e de “esquerda”. Nem petismo nem golpe militar-fascista - chamado pelos seus defensores de “intervenção”- acabarão com a miséria da classe trabalhadora. A hora é de ofensiva contra o sistema e o Estado!!!!
Tomar posse do próprio destino e traçar o futuro com as próprias mãos!
Sindicatos, partidos e políticos NÃO ACABARÃO COM A CARESTIA: os acordos dos sindicatos com Temer não passam de distração para ganhar tempo. Enquanto os sindicatos armam “trégua de 15 dias” para quebrar a greve e anunciam “congelamento” do preço dos combustíveis por alguns dias...as tropas do Exército e os efetivos policiais estão sendo movimentados em todos os estados. Nesse momento basta lembrar os “20 centavos” de 2013: as passagens de ônibus um ano depois voltaram a subir e em dobro, mas o mais importante o governo conseguiu - destruir as manifestações. Está provado historicamente que esses contratos, esses acordos de Judas, não são seguidos:
• A infiltração de prefeitos municipais, vereadores, pré-candidatos e outros demagogos se promovendo às custas do movimento também é outro fator enfraquecendo a greve: estão afastando outros setores da classe trabalhadora, que acham que a greve é deles e não dos caminhoneiros. Seja lá o que prometam não estão em condições de dar o que os(as) trabalhadores(as) precisam: libertar-se dos patrões e dos governantes. Falam bonito, fazem festa e dão brindes aos caminhoneiros, mas não os libertarão das balas da PM e do Exército quando esses vierem para cima dos grevistas, não se interessam em acabar com a roubalheira, vivem dela e só se aproximam da greve pra azer nome entre os caminhoneiros e depois serem eleitos por eles. Os trabalhadores precisam se organizar de modo independente;
• O objetivo do movimento é o mesmo de todas as lutas da classe trabalhadora: viver sem ser depenado(a) pelos parasitas burgueses, incluindo entre esses parasitas os donos das frotas de caminhões e das transportadoras, que forçam os caminhoneiros a cumprir vários fretes, em prejuízo da saúde e da segurança: obrigam-nos a se drogar para dobrar viagens e cumprir os contratos...e agora esses mesmos ladrões dizem “apoiar” a greve, não porque querem vida melhor para os caminhoneiros, mas porque querem financiamento do governo, ou seja, mais dinheiro no cofre. Se a classe trabalhadora quer greve vitoriosa, terá que voltá-la contra eles também, pois assim que o governo os bancar financeiramente, serão os primeiros a forcar o fim da greve, mesmo sem nada de concreto em favor da categoria!!!
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