domingo, 2 de fevereiro de 2014

Pequena Ética (A Vida, 1914)

"[...] aqueles pendores chamados altruístas no fundo nada mais são do que puro egoísmo.

Quem dá o último pedaço de pão para matar a fome a um semelhante, quem deixa a última coberta para abrigar a outrem prestes a morrer de frio, pratica esses atos, que o positivismo chama altruístas, porque sentirá maior prazer em matar a fome do faminto e em abrigar o outro do frio, do que se ele mesmo comesse esse pão e se abrigasse com essa coberta. Da mesma forma, quem arrisca a vida para salvar a de outrem, o faz para evitar o sofrimento que lhe resultaria se não praticasse essa ação. Daí resulta que agimos sempre para sentirmos um prazer ou para evitarmos um sofrimento.

Atribua-se esses atos ao egoísmo ou ao altruísmo, isso pouco importa, porque a verdade é que, no fundo, tudo redunda em egoísmo.

[...] É por amor aos nossos semelhantes que somos anarquistas, é por amor à nossa espécie, a nós mesmos e à sociedade, que combatemos a injustiça, que odiamos os exploradores e os opressores dos nossos semelhantes: e, se odiamos é porque o ódio é também uma manifestação de amor. Quem odeia alguém ou alguma coisa é porque esse alguém ou essa coisa prejudica aquilo que amamos. "
A Vida, publicação mensal anarquista, ano I nº2, Rio de Janeiro, 31 de Dezembro de 1914
(grato a Ulisses)

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