Reformas que atacam brutalmente os trabalhadores estão ocorrendo em todo o mundo. Como comprovado na prática no Brasil, agora na Argentina e antes na França, as greves e manifestações se mostram impotentes, são completamente domesticadas e não causam mais nenhuma surpresa para a classe dominante. As greves, porque a maioria dos trabalhadores estão no setor de serviços, afetam mais os próprios proletários que usam esses serviços do que os patrões, que, por sua vez, praticam "diversificação de investimentos", isto é, cada um investe simultaneamente em muitas outras empresas, ações, bolsa, outros países etc de modo que mal são afetados pela greve. Com isso, os proletários cada vez menos reconhecem a luta dos trabalhadores em greve como a luta deles próprios. As manifestações, por outro lado, são apenas aparência, falsas lutas, sendo totalmente controladas, contidas e neutralizadas pela polícia com sofisticados métodos de controle de multidões, pela esmagadora superioridade em armas e pela aterrorizante mobilização de mercenários (milícias, grupos de extermínio, gangues de traficantes etc). Diferentemente, no início do século XX, uma proporção muito maior dos proletários, geralmente a maioria, estava no setor industrial, e suas greves afetavam diretamente os patrões e não os demais proletários, que por isso reconheciam a luta dos trabalhadores da indústria como a luta deles mesmos. Desse modo, as greves se espalhavam internacionalisticamente, ocorrendo em muitos países ao mesmo tempo, de forma que os patrões não tinham para onde fugir com seus "investimentos" (essa simultaneidade internacional da luta dos trabalhadores era o objetivo da Associação Internacional dos Trabalhadores já na segunda metade do século XIX, que deu origem à música "A Internacional"). Essa situação atingiu um ponto inescapável para os patrões, forçando-os a adotarem, entre os anos 1920 e 1930, a jornada de oito horas de trabalho simultaneamente no mundo inteiro (antes disso, a jornada geralmente era de 14 a 16 horas), assim como o direito a aposentadoria. Precisamente as coisas que estão hoje sob brutal ataque. Porém, como explicamos no primeiro parágrafo, as condições atuais são completamente diferentes das do início do século XX. Essas condições nos indicam que a perspectiva prática descrita no texto Greve e produção livre é a única que, de fato, parece ter o potencial de permitir que os proletários (trabalhadores e desempregados) possam novamente se associar internacionalisticamente e impor ditatorialmente a satisfação das necessidades humanas contra a ditadura do dinheiro.
Traduzimos Quando as insurreições morrem, de Gilles Dauvé, texto que é uma contribuição fundamental para entender a história das revoluções e contrarrevoluções que aconteceram na primeira metade do século XX, especialmente o período de 1917 até 1937, abrangendo as insurreições do trabalhadores na Itália, na Alemanha, na Rússia e na Espanha, a relação entre a derrota dessas insurreições e o crescimento da social-democracia, da democracia, do fascismo e do nazismo e a maneira como o Estado se converte em democracia e ditadura conforme as necessidades do capital. Link para o texto: Quando as insurreições morrem - Gilles Dauvé
O site humanaesfera é produto de debates e conversas entre muitas pessoas que não são nenhum grupo formal, muitas vezes inclusive com pessoas aleatórias da vida cotidiana, no trabalho, ônibus, rua, filas etc. O objetivo é reunir, ou, por assim dizer, "salvar" (para um maior público e para o futuro) as ideias comunistas libertárias, que não tem donos, e que surgem esparsas pela sociedade. Abaixo, textos clássicos dessa tendência:
Humanaesfera é o comunismo: a associação livre sem fronteiras dos indivíduos, onde o livre acesso às suas condições de existência práticas - aos meios de produção e de vida interconectados em escala planetária que deixaram de ser propriedade privada - emancipou a humanidade de toda coerção social, seja ela econômica, empresarial, estatal, territorial, educacional, familiar ou cultural.
O objetivo deste site é desdobrar e armar explicitamente no séc. XXI o pensamento-desejo-necessidade mais básico e reprimido do proletariado desde seu surgimento no século XVIII:
a)abolição do trabalho: supressão de todo e qualquer sistema de recompensas e punições; consequentemente, fim de toda e qualquer atividade repulsiva, irritante, tediosa e/ou maçante, de tudo que não for atrativo por si só, para que toda atividade produtiva seja a livre expressão multilateral da criatividade, das capacidades e necessidades humanas; abolição do mercado de trabalho; portanto, fim da escravidão do salário, do dinheiro, da mercadoria, e para isso ser possível,
d) abolição do Estado, pois somente pela supressão do corpo armado separado da população (polícia e forças armadas) será possível libertar a população dessa que é a única coisa que a priva efetivamente (pela força das armas) de ter livre acesso a suas condições de existência.
São estes os requisitos mínimos para que os indivíduos realizem e produzam suas próprias potencialidades como eles mesmos (isto se chama liberdade), e nunca mais possam ser forçados a se reduzir a mercadorias oferecidas no mercado de trabalho e nem à condição de objetos de consumo da administração empresarial ou estatal.
Prática: contra o embuste do "trabalho de base", da militância e do ativismo, nos limitamos a apoiar preguiçosamente a única prática propriamente comunista, cuja menor faísca por si só é capaz de tomar o mundo: a superação da greve pela produção livre, gratuita e universalmente acessível, que suprime desde já o emprego, para propiciar a livre e autônoma circulação universal das necessidades e capacidades humanas, contra aempresa, o Estado, a nação, a família,a mercadoriae a classe dominante em escala mundial.
Só o que é monopolizável tem um preço. A característica originária, determinante, da propriedade privada é o monopólio. O monopólio consumado é a concorrência. (K. Marx, 1844)
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Na civilização, um médico deseja bons casos de febres, e um advogado, bons processos em cada família. Um arquiteto, um bom incêndio que destrua parte da cidade, e o vidreiro, uma boa tempestade que quebre todas as vidraças. Um alfaiate, um sapateiro quer que o público use somente coisas mal feitas, de modo a triplicar a quantidade consumida – para o benefício do comércio; é isso que os preocupa. Uma corte de justiça considera oportuno que a França continue a cometer 120.000 crimes e danos reclamáveis, número necessário para manter as cortes criminais. É assim que na indústria civilizada cada indivíduo está em guerra proposital com as massas; é o resultado necessário da indústria anti-associativa ou de um mundo invertido. Esse círculo vicioso da indústria é tão evidente que por toda parte o povo está começando a sentir, estupefato, que, na civilização, a pobreza nasce da própria abundância. (Charles Fourier, 1808)
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Na humanisfera, o consumo alimenta a si mesmo pela produção. Os humanisferianos satisfazem naturalmente a necessidade de exercício do braço tanto como a necessidade do exercício do ventre. Não é mais possível racionar o apetite da produção, assim como também não é mais possível racionar o apetite do consumo. Cada um consome e produz conforme as suas capacidades, conforme as suas necessidades. Cada um é livre para produzir e consumir à vontade e segundo suas fantasias sem controlar nem ser controlado por ninguém, e o equilíbrio entre a produção e o consumo se estabelece não mais pela detenção preventiva e arbitrária por uns ou por outros, mas pela livre circulação das capacidades e das necessidades de cada um. Ali, nessa sociedade anárquica, a família e a propriedade legais são instituições mortas, hieróglifos cujo sentido se perdeu. (Joseph Déjacque, 1857)
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Em todas as revoluções anteriores, permanecia inalterado o modo de atividade e procedia-se apenas a uma nova distribuição dessa atividade, a uma nova repartição do trabalho entre outras pessoas; a revolução comunista é, pelo contrário, dirigida contra o modo de atividade anterior - suprime o trabalho e acaba com a dominação de todas as classes pela supressão das próprias classes - pois é realizada pela classe que, no âmbito da atual sociedade, já não é considerada como uma classe dentro dessa sociedade e constitui a expressão da dissolução de todas as classes, de todas as nacionalidades. [...] Logo, enquanto os servos fugitivos apenas pretendiam desenvolver livremente as suas condições de existência já estabelecidas e fazê-las valer, mas conseguiam quando muito o trabalho livre, os proletários, se pretendem afirmar-se como pessoas, devem abolir a sua própria condição de existência anterior, que é simultaneamente a de toda a sociedade até aos nossos dias, isto é, devem abolir o trabalho. Por este motivo, eles encontram-se em oposição direta à forma que os indivíduos da sociedade escolheram até hoje para expressão de conjunto, quer dizer, em oposição ao Estado, sendo-lhes necessário derrubar esse Estado para realizar a sua personalidade. (Karl Marx e F. Engels - A Ideologia Alemã, 1846)
Livreto/brochura: Tecnologia (história social da internet, inteligência artificial, gameficação do comando, internet das coisas)
humanaesfera #6
Brochura/livreto: Extratos sortidos de Marx sobre o indivíduo, a abolição do trabalho, do Estado , do capital e das classes pelos indivíduos livremente associados como fins em si, que se expressam com as forças produtivas histórico-mundiais.
Humanaesfera #5
Livreto/Brochura: O mecanismo atrativo: a teoria da atração apaixonada de Charles Fourier e Extratos de L'Humanitaire, a primeira publicação comunista libertária
Humanaesfera #4
Livreto/brochura sobre transformação da vida cotidiana - ética, autonomia, classe solidariedade e abundância na prática
Humanaesfera #3
Livreto/brochura com textos com nossas posições básicas
humanaesfera #2
Brochura/livreto com trechos de "A Humanisfera - Utopia Anárquica" (1857) de Joseph Déjacque.