terça-feira, 11 de abril de 2017

O antifascismo como forma de adesão ao sistema - El último de Filipinas Alacant



Trecho: "[...]Para determinar a função que o fascismo cumpre, deve-se determinar a realidade na qual ele se desenvolve, que certamente não é a mesma dos anos 30. A necessidade constante de desenvolvimento das forças produtivas do capitalismo levou-o a uma crise permanente. A crise do modelo keynesiano de desenvolvimento, desde princípios dos anos 70, conduz a uma paulatina superação desse modelo (do Estado de Bem-estar) e à gradual extensão de um novo (velho) modelo de liberalismo. Atualmente, ambos convivem e/ou concorrem na estrutura internacionalizada da economia de mercado. Mas essa instabilidade é suscetível de gerar graves disfuncionalidades.
A substituição de um modelo em decadência por outro em ascensão cria uma situação de precariedade e uma forte resistência em grandes camadas da sociedade. A isso se acrescenta a suposta imigração em massa como causa de disfuncionalidade adicional, fruto da internacionalização da economia e do incremento da exploração nos países da periferia, assim como a marginalização de grandes áreas geográficas do mercado-mundo.
Em resumo, eis o quadro onde se situa o fascismo. Hoje, sua missão é facilitar a transição de um modelo a outro, desenvolvendo políticas que tendem não a tomar o poder (não já...), mas a fortalecê-lo e totalizá-lo por meio de leis repressivas, anti-imigração etc., que impeçam ou neutralizem as possíveis disfuncionalidades - que se traduziriam em revoltas cíclicas ou movimentos de resistência -, conservando e mantendo formas de governo formalmente democráticos mas acentuando o papel repressivo do Estado capitalista. Portanto, o fascismo trataria de, ao mesmo tempo, direitizar e desestabilizar a sociedade, para justificar as medidas de urgência por parte do Estado. Por outro lado, é restabelecida a dicotomia democracia ou fascismo (duas caras do mesmo capitalismo), reforçando a alternativa democrática diante da possibilidade fascista, saindo vitorioso, desse falso enfrentamento, o capital.
ANTIFASCISMO HOJE
Entendendo a função do fascismo na atual estrutura das relações sociais e econômicas, podemos entender a função do antifascismo. Hoje, o antifascismo adota (querendo ou não) diversas facetas e funções:
O antifascismo como atitude estética. O antifascismo é pouco menos que uma moda. A falta de análise, debate e crítica é patente. Não globaliza o problema, mas trata de separar seus efeitos mais palpáveis (violência de rua fascista), reproduzindo-os, em muitos casos (violência de rua antifascista). Ao redor do antifascismo é criada e recriada uma estética ganguista e de escasso conteúdo, regida por uma violência boçal e estéril. Proliferam grupos, coletivos, plataformas etc., que tratam de responder a um fenômeno sem analisar suas causas ou, ao menos, sem atacá-las. Atos de repúdio ou de puro caráter anedótico, como as manifestações de 20 de novembro, são moeda comum. Mais além, deve-se situar a patética imagem do mata-nazis como figura folclórica do movimento que, em muitos casos, copia atitudes e esquemas mentais de seus supostos adversários, numa clara tendência militarista que pode chegar a prevalecer e envolver todo o movimento.
O antifascismo como luta de distração. Fixar nossos esforços na luta antifascista a nível parcial nos distancia inevitavelmente da centralidade da luta de classes: criar consciência e auto-organização de classe. O antifascismo distrai a atenção de um problema concreto, fruto de uma situação global. Ainda mais quando cai em dinâmicas de repressão-ação (difíceis de evitar), que levam o movimento a centrar seu trabalho na resposta a agressões de grupos fascistas ou do aparato repressivo do Estado, quando @s antifascistas sofrem represálias.
O antifascismo como colaboração de classe. O lema "todos contra o fascismo" pode exemplificar uma tendência para a colaboração de classes. A aliança, em plataformas etc., com forças contra-revolucionárias da esquerda capitalista é patente em muitos casos. Um lema tão geral pode ser tomado de muitos ângulos, desde a esquerda colaboracionista até a direita liberal, passando pelos grupúsculos oportunistas (os restos do leninismo, que combatem o fascismo aqui e apoiam alianças entre fascistas e "comunistas" na antiga URSS). A história volta a se repetir, com um cenário totalmente distinto, ao se desenvolverem políticas frentistas que implicam um reforço do modelo capitalista sob formas democráticas parlamentares. Volta-se a colaborar com os inimigos de classe, socavando os próprios interesses em nome de uma defesa dos inimigos aparentemente mais diretos e atrozes: os fascistas. O resultado é que, no lugar de fazer cotidianamente a revolução, nos aliamos aos inimigos dela.
O antifascismo como forma de reforçar o Estado. Os grupos antifascistas reclamam medidas estatais e legais que reprimam o fascismo 6: leis contra grupos nazis, medidas policiais, altas penas de prisão etc. A aplicação de tais medidas dificilmente nos favoreceria, muito pelo contrário. Com isso, reforça-se o papel do Estado como repressor e seu poder é fortalecido. Não deixa de surpreender e alarmar que, de nossas fileiras, sejam dadas armas para nosso mais evidente inimigo: o Estado. Assim como quem considera que as leis do Estado possam ser nossa salvaguarda contra aqueles que são nem mais nem menos que seus cúmplices: os fascistas.
PALAVRAS FINAIS
Não se pretende fazer, a partir deste artigo, uma crítica sanguinária e sem atenuantes a todos os grupos antifascistas. Não é possível pensar que esse movimento seja homogêneo e igualmente criticável, mas sim que é necessário começar a criticar, analisar e, definitivamente, pensar a realidade. Globalizar as situações para intervir na realidade e transformá-la é tarefa de tod@ revolucionari@. Do contrário podemos cair (mesmo que seja sem o desejar) no papel de cúmplices e companheir@s de viagem do próprio sistema que nos oprime. Tampouco deseja este artigo dizer que não devemos enfrentar o fascismo, mas sim esclarecer que essa luta forma parte (e não a fundamental) do enfrentamento cotidiano contra o Capital-Estado e não uma forma de justificar a existência destes."