Na sociedade de classes, o desejo é impotente. Primeiramente é materialmente impotente. Reduzido à mero capricho subjetivo, o desejo é privado de meios de se realizar praticamente, materialmente, pois o que fundamenta a sociedade de classes (e mais brutalmente ainda a sociedade capitalista) é o próprio fato de a população ser mantida privada dos meios de produção (i.e., propriedade privada), isto é, privada da própria condição de qualquer prática material desejante.
Uma vez que os desejos são privados de suas condições materiais de atuação, ele é impedido de se auto-formar, já que sua auto-formação só pode se dar através da atuação, da prática, da experimentação material, que é impedida do ponto de vista sócio-material-planetário.
Impedido de se auto-formar, o desejo de cada um é formado por outros, isto é, pela classe dominante, proprietária dos meios de produção, que, através da publicidade e da industria de entretenimento cria desejos alienados de suas próprias condições materiais de produção (assim, o sonho de ter carro, roupas da moda e por aí vai), isto é, desejos formados não pela experiência sócio-material-mundial, mas pela pura e simples lavagem cerebral.
Em suma, a impotência do desejo apenas exprime como as condições materiais de existência (do desejo, como de tudo o mais) são inumanas, anti-desejantes, abstratas, doentia. Trata-se de identificar o inimigo: o açougue chamado empresa (se estatal ou particular, não faz a mínima diferença) onde os seres humanos vendem sua carne como força de trabalho em troca da bruta existência, sob a crua ditadura do dinheiro (e, portanto, tirania de seus donos, sejam eles indivíduos ou estados).
Humana Esfera, Setembro de 2010
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